De cada dez gaúchas, seis preferem a cesariana

Na contramão do que recomenda a OMS, número de partos pelo procedimento aumentou entre 2001 e 2011 em 45 dos 47 municípios da região.

Por Débora Ertel - https://www.diariodecanoas.com.br


Rio Grande do Sul  - Quando a medicina ainda engatinhava, a ideia de poder escolher o tipo de parto sequer passava pela cabeça das mulheres. A ciência evoluiu e os tempos são outros. Hoje, até mesmo antes da concepção, futuras mamães já discutem sobre como seus filhos virão ao mundo. Essa possibilidade de escolher o tipo de parto faz do Brasil um recordista: é o que mais faz cesáreas no mundo.

Dados do Ministério da Saúde indicam que esse número não para de crescer. No ano de 2001, os partos normais somavam 61,32% dos nascimentos. Uma década depois, em 2011, a tabela se inverteu. A quantidade de cesáreas cresceu 15,67% comparada há dez anos atrás, representando 53,74%. Na região de cobertura do Jornal NH, esse tipo de parto somou, em 2011, 57,86%.O índice é alto, mas ainda inferior à média do Estado, que foi de 60,26%. É como se a cada dez gaúchas, seis preferissem a cesariana. Maratá é a cidade em que o número de cesáreas mais aumentou em relação ao de partos normais. Foram 38,01% a mais em 2011 em relação a 2001. Na ponta oposta, está Linha Nova, onde o número de cesáreas caiu 31,43% no mesmo período.

A Organização Mundial da Saúde (OMS) preconiza que a taxa de cesarianas não seja superior a 15% do total de nascimentos. O crescimento de cirurgias eletivas de cesariana pode ter três explicações principais. A primeira, como aponta a obstetra da Secretaria da Saúde de Novo Hamburgo Luciara Casagrande Batista, é o medo das mulheres sentirem dor, potencializado pelo fato de poucos hospitais da rede pública disponibilizarem medicação. Outro motivo é a falta de disponibilidade de médicos em acompanharem suas pacientes durante o trabalho de parto.

O obstetra da Associação de Obstetrícia e Ginecologia do Estado (Sogirgs), Cristiano Salazar, comenta que a cesárea acaba sendo mais conveniente para o paciente e para o profissional. Uma terceira justificativa pode ser a ansiedade feminina, estimulada por amigos e familiares que, assim como as mulheres, não suportam mais esperar. “Cada mulher tem a sua maneira de ganhar bebê. Nem o parto normal e nem a cesárea será a melhor para todas”, destaca Salazar.