MITOS SOBRE A AMAMENTAÇÃO

Quando a mulher descobre que está grávida, amigos e parentes já começam a repassar os mais diversos mitos acerca do aleitamento materno. Depois que o bebê nasce, a mãe fica repleta de dúvidas e pode até ter dificuldades para amamentar. Conheça aqui dez mitos sobre a amamentação e saiba por que eles estão errados.

 

Fonte: Portal UOL bbel.uol.com.br

 

Tentei amamentar meu filho, mas não consigo, pois não tenho leite.

"Toda mulher tem capacidade de produzir leite quando devidamente estimulada. Esta quantidade, que a princípio pode ser mínima, vai aumentando a ponto de suprir as necessidades energéticas do bebê, desde que mãe esteja sendo acompanhada por seu médico", explica Ciro Domenico Giaccio, pediatra e professor da Universidade Cidade de São Paulo - UNICID. "Este é um dos mitos mais clássicos. O ser humano é um mamífero, portanto a mulher está preparada para produzir leite. Ela possui um reflexo de produção e basta a sucção dos seios para o leite ser produzido", comenta Benito Lourenço, pediatra da Santa Casa e do Hospital das Clínicas e professor da SJT Educação Médica Continuada.

"Acontece que o leite materno demora cerca de três dias para descer. Nesses três dias iniciais, o bebê mama pouco e picadinho. É o necessário e o suficiente para alimentá-lo. Neste momento ele mama o colostro, um leite bastante concentrado e repleto de nutrientes. Mas a mãe fica insegura e isso interfere na amamentação", avisa Marcelo Reibscheid, pediatra e neonatologista do Hospital e Maternidade São Luiz e criador do portal Pediatria em Foco. "A mulher produz prolactina, um hormônio responsável por produzir o leite. Mas apenas isso não basta, é preciso também ejetá-lo do seio. Para isso é produzido o hormônio ocitocina, que depende da segurança da mulher. A mãe bem orientada por seu médico, tranquila e despreocupada quanto à amamentação, produz a ocitocina e amamenta seu filho sem dificuldades. Mas quando ela é insegura, a produção deste hormônio diminui e o leite não sai. A mulher tem que acreditar que pode amamentar e não deve se autossabotar, aí vai conseguir produzir o leite e mandá-lo para a boca da criança", ressalta Benito.

 

Não tem problema se outra mulher, como uma prima ou amiga, amamentar meu filho.

"Tem problema, sim. Isto porque existe o risco desta mulher ter doenças infecciosas que ela mesma desconhece e que podem ser transmitidas pelo aleitamento. Além disso, o vínculo materno, ou seja, o contato entre mãe e bebê deve ser a prioridade para o estímulo da produção do leite, sem intermediários", adverte Ciro. "Este hábito é chamado de amamentação cruzada e é parte da história do aleitamento. Antigamente existiam as mulheres que amamentavam os filhos de outras e eram conhecidas como Amas de leite. Com o avanço da medicina foi provado que doenças infecciosas podem ser passadas através do aleitamento materno, então não é indicado", alerta Benito.

"Além disso, se fizermos uma análise em 30 mães, veremos que o leite de cada uma delas é diferente. O filho é como um operário na barriga da mãe e o leite é como ele precisa. Além disso, a criança pode contrair hepatite B, hepatite C e até AIDS através da amamentação por uma mulher infectada", esclarece Marcelo. "Já os bancos de leite humano podem ser utilizados em casos especiais, pois o leite da mãe doadora é tratado e conservado adequadamente para que o bebê possa se alimentar sem correr o risco de contrair alguma doença", avisa Benito. 

 

Bebê sente sede, então precisa dar água, chá e suco para ele.

"O bebe sente sede, mas a amamentação resolve isso. Por seis meses a mulher deve alimentar seu filho apenas com o leite materno, sem oferecer água, sucos ou chás para a criança, mesmo em regiões quentes. O leite materno possui água e os primeiros quatro minutos da amamentação é um leite fração-solução, que é aguado e mata a sede do bebê. Após o quinto minuto é o leite fração-emulsão, mais denso e gorduroso, que serve para alimentar", comenta Benito.

"85,5% da composição do leite materno é água. A Organização Mundial da Saúde (OMS) e a Academia Americana de Pediatria recomendam seis meses de amamentação exclusiva. O leite da mãe é completo e hidrata seu filho", esclarece Marcelo. "Às vezes até acontece de o bebê mamar por dois minutinhos e parar, e depois de uns dez minutos ele chora. Aí a mãe pensa que o leite não matou a fome do filho, mas pode ser que naquele pouco tempo a criança queria apenas matar a sede e só depois sentiu fome. Nesse caso o choro pode ser por motivos não relacionados à alimentação, tais como frio e sono", avisa Benito.

 

Meu leite é fraco e não é suficiente para alimentar o bebê com todos os nutrientes que ele precisa.

"É preciso que as mães saibam que não existe leite fraco. Todo leite humano tem a composição ideal para as necessidades dos bebês", afirma Ciro. "O leite materno possui a proteína adequada, o melhor cálcio e é rico em ferro, portanto evita doenças e o risco de anemia é bem menor nos bebês que mamam no peito. É como um 'suco' de anticorpos", confirma Benito. "As mães mais magras possuem um poder calórico menor no leite, então, conforme o caso, indicamos diminuir o intervalo entre as mamadas e não há necessidade de incluir fórmulas, pois o leite materno vai alimentar muito bem a criança", avisa Marcelo.

"O leite materno tem duas finalidades. Uma é a defesa através dos anticorpos, que garantem a saúde da criança e evitam doenças alérgicas. A outra é o desenvolvimento neurológico, pois a gordura do leite é saudável e proporciona o crescimento do cérebro do bebê. Por isso, não existe leite materno fraco", ressalta Benito.

 

A mulher que tem os seios planos ou bicos invertidos não consegue amamentar.

"A verdade é que sempre é mais fácil amamentar quando o mamilo é projetado. Entretanto, se a mãe for bem orientada e acompanhada, mesmo os mamilos mais planos ou invertidos não impedem o sucesso da amamentação. Seja persistente e siga as orientações para o adequado posicionamento, que o resto o bebê faz", explica Ciro.

"A mãe precisa conversar com o obstetra já no início da gravidez, pois ele vai indicar alguns exercícios para a projeção do mamilo. Mas a mulher precisa entender que isso não a impossibilita de amamentar, vai apenas dificultar a pega correta no início do aleitamento. Mas a criança vai conseguir mamar normalmente", avisa Marcelo.

"A maioria das mulheres possui o bico para amamentar sem dificuldades, mas a mãe que tem os seios planos ou invertidos não precisa se preocupar. No momento da amamentação acontece a protactilidade, que é quando o bico cresce através da sucção do bebê. Um grupo pequeno de mulheres pode ter problemas na pega, mas hoje há dispositivos modernos que resolvem o problema. É importante que a mãe tenha tranquilidade nesta hora, assim vai produzir a ocitocina e o bebê vai mamar sem dificuldade", afirma Benito.

 

A mulher que já fez redução dos seios ou tem silicone não consegue amamentar.

"As mães que passaram por tais procedimentos não precisam se preocupar. A cirurgia de redução dos seios não extrai os ductos que formam o leite. Já a prótese de silicone fica por trás dos ductos lactíferos e, portanto, não atrapalha a amamentação", revela Ciro. "Só depende da técnica que o cirurgião usou. O médico pode diminuir os seios de duas formas: através da retirada de gordura e músculo ou com a remoção de glândulas. Neste último caso a mãe terá dificuldades para amamentar. Já o silicone nas mamas só vai dificultar o aleitamento se a prótese for colocada na frente das glândulas. Mas hoje a colocação do silicone é atrás de músculos, o que não atrapalha a amamentação", avisa Benito.

"Essa mãe pode ter um pouco mais de dificuldade para amamentar, mas não é impossível. Dependendo de como foi a cirurgia, ela pode atrapalhar a produção e o depósito do leite, por isso é muito importante ter cuidado com esses procedimentos. Se a mãe apresentar dificuldades no aleitamento, nestes casos podemos aconselhar uma complementação do leite materno", explica Marcelo.

 

Seis meses só com leite materno é muito tempo, o bebê precisa de comida de verdade antes disso.

"Muito pelo contrário. Seis meses é o mínimo desejado para que o bebê permaneça exclusivamente amamentando, sem outros alimentos. Portanto, nada de chás, sucos, papinhas ou água", recomenda Ciro. "O leite materno é um alimento completo para seu filho. Ele ajuda no desenvolvimento cognitivo e imunológico da criança", reitera Marcelo. "Já foi provado pela OMS que o leite materno deve ser exclusivo por seis meses. Ele oferece todos os nutrientes que o bebê precisa e é mais econômico, já que não terá gastos com as caras latas de leite em pó. Aliás, o alimento introduzido muito cedo pode causar problemas, como alergias, dificuldade no crescimento e obesidade no futuro", adverte Benito.

 

Os leites em pó para bebê já são iguais ao leite materno.

"Este mito é um grande absurdo, pois o leite artificial nunca vai substituir o leite materno. A constituição é próxima, mas apenas o leite da mãe tem anticorpos, elementos essenciais para a defesa do organismo do bebê", assegura Marcelo. "Em composição bioquímica o avanço é grande, mas peca na defesa por não possuir anticorpos. Não tem como colocar esse e outros elementos vivos no leite em pó", afirma Benito.

"Na verdade, a composição de leite em pó para bebês está próxima do leite de vaca, que é sua matéria prima. Deste modo, não há semelhanças com o leite materno. Além disso, esses produtos não possuem as defesas naturais devido à falta de conteúdo imunoenzimático e de imunoglobulinas", explica Ciro. "Inclusive os bebês com refluxo devem mamar no peito e não partir para o leite em pó, que pode piorar o quadro de refluxo. Vale lembrar que o leite de vaca é proibido para crianças de até um ano", adverte Benito.

 

A mãe precisa tomar cerveja preta, pois a bebida estimula a produção de leite.

"Pelo contrário. Se a mãe tomar bebida alcoólica, ela e o bebê ficarão sonolentos e, assim, não será possível realizar a amamentação de forma adequada. E mais, nunca tome cerveja preta amamentando, pois o álcool passa pelo leite materno", adverte Ciro. "Não há nada que comprove que a cerveja preta estimule a produção de leite. Aliás, a mãe não pode beber álcool durante os meses que amamentar", alerta Benito.

"Qualquer líquido estimula a produção de leite, tais como água, sucos e outros. É necessário que a mãe mantenha uma boa hidratação enquanto amamenta, para estimular a produção do leite. Mas é proibido consumir bebidas com gás e também as alcoólicas, e a cerveja preta entra nos dois casos. Evite também refrigerantes", avisa Marcelo.

 

Não quero amamentar, pois vai deixar meus seios flácidos.

"As mães não devem se preocupar com isso. Está provado que a amamentação não altera a configuração da mama. O que faz isso é o tempo", defende Ciro. "Desde que a mãe sustente os seios com um bom sutiã o tempo todo, não tem problema. Acontece que algumas mulheres ficam sem sutiã ou usam aqueles que não têm uma boa sustentação. Nesses casos os mamilos podem mesmo ficar flácidos, mas por descuido, não por culpa da amamentação", comenta Benito.

"A mãe precisa entender que a amamentação é um grande benefício para a criança. Se por acaso acontecer de os seios ficarem flácidos, algum tempo depois ela pode fazer uma cirurgia para resolver. Mas uma alergia que o filho porventura tiver porque não recebeu os anticorpos necessários na amamentação, não tem cura", alerta Marcelo.