Mitos e verdades sobre o primeiro ano do bebê

Falta de informação, palpites e crenças populares podem deixar muitos pais confusos – especialmente os de primeira viagem. Descubra por que nem sempre é uma boa ideia seguir os conselhos

 

Por Lila de Oliveira - atualizada em 22/10/2013 15h24 – Revista Crescer

Cerveja preta para estimular a produção de leite, moeda para cicatrizar o umbigo e até azia como indicativo de que o bebê vai nascer cabeludo são apenas algumas das inúmeras teorias que dez entre dez futuras mães passam a escutar assim que anunciam a gravidez. Embora grande parte dessas crenças não tenha qualquer embasamento científico, muitas mulheres fazem questão de seguir toda sorte de recomendação à risca. Mas é preciso saber diferenciar as verdades incontestáveis daquelas que são relativas, além de detectar o que é pura fantasia. CRESCER consultou especialistas e colocou à prova dez “verdades irrefutáveis” para que você saiba o que realmente tem de ser levado em conta no primeiro ano de vida do seu filho.

Conversar com os bebês não faz sentido

MITO. Muitas pessoas acreditam que o recém-nascido não consegue assimilar o que é dito. Mas, segundo a professora de Psicologia Izabella Paiva Monteiro de Barros, da Universidade Presbiteriana Mackenzie (SP), essa despretensiosa “conversa” é superimportante. “Além de estreitar os laços dos pais com o filho, ela ajuda a atribuir sentido às informações que o pequeno recebe do ambiente.” Um jeito de fazer isso é a mãe dizer, ao mesmo tempo que oferece o peito, “agora você vai tomar seu leite”, por exemplo. Uma pesquisa realizada com 50 bebês na Universidade Northwestern, em Illinois (EUA), provou que o recurso é eficiente. Eles mostraram uma figura com um peixe desenhado. Para alguns, falavam “peixe”. Para outros, a imagem veio associada a um bipe. Aqueles que ouviam a palavra aprenderam melhor a associá-la.

Tomar mamadeira deitado pode causar dor de ouvido

VERDADE. Como o canal que liga a garganta ao ouvido é mais curto e horizontalizado no recém-nascido, o líquido tende a fluir com maior rapidez, principalmente se o bebê estiver deitado. Isso permite que o leite alcance o ouvido e suas bactérias se instalem ali. Aí existe o risco de se multiplicarem, provocando uma infecção. Até os 2 anos, a criança deve, portanto, estar levemente inclinada – em um ângulo de 30º a 45º – para evitar o problema.

Levantar o braço da criança faz passar o soluço

MITO. O soluço é resultado da contração involuntária do diafragma e, como os diferentes estímulos aos quais o recém-nascido é exposto podem contrair o músculo, o problema é frequente nessa fase. Basta pensar que o bebê passou meses dentro da barriga da mãe, recebendo, pelo cordão umbilical, o alimento já metabolizado e, de repente, ele passa a ter de mamar, engolir, digerir, sugar, urinar, evacuar... Enfim, ele começa a exercer uma série de novas funções, como uma máquina que acabou de ser ligada. Então, não há muito que fazer. O jeito é esperar o soluço cessar naturalmente.

Dormir de barriga para cima aumenta os riscos de o bebê regurgitar e engasgar

MITO. Quando dorme virada para cima, a criança consegue mexer a cabeça livremente para os dois lados, o que ela certamente fará se sentir algum incômodo. Se ainda assim ela engasgar, provavelmente ocorrerá a tosse – e aí talvez esteja a origem da associação que alguns pais fazem entre a postura do bebê e o engasgo. A posição que, de fato, oferece risco é a de barriga para baixo, por deixar o pequeno sem liberdade de movimento e sujeito a inalar o gás carbônico liberado na respiração, o que pode asfixiá-lo. Já existem inclusive diversos estudos que associam o hábito de dormir de bruços à morte súbita de recém-nascidos.

A ansiedade da mãe aumenta a probabilidade de o bebê ter cólica

VERDADE. O sistema digestivo dos bebês é imaturo. Isso implica em movimentos involuntários de contração e relaxamento, que podem resultar em gases e cólicas, bastante comuns. E o estresse pode agravar esse sintoma. Ocorre que a criança é capaz de perceber as alterações de humor da mãe e também fica tensa, insegura. Daí o corpo dela reage, favorecendo a sensação dolorosa. Por isso, a mãe deve se acalmar e tentar evitar que a tensão transpareça.

Bolsa de água quente melhora a cólica

VERDADE. Assim como o movimento de “bicicleta” feito com as perninhas, o calor diminui o incômodo causado pela cólica. A elevação da temperatura provoca a dilatação dos vasos sanguíneos e o relaxamento muscular. Assim, a dica para esquentar o local da dor e aliviá-la é lançar mão da bolsa – com a água em temperatura morna, para não queimar – ou encostar a barriguinha do bebê na da mãe.

O leite sempre deve ser servido morno

MITO. O leite materno, claro, deve ser sempre a primeira opção – e ele já sai na temperatura adequada para o consumo. Mas, segundo o pediatra José Luiz Setúbal, presidente do Hospital Infantil Sabará (SP), o bebê pode tomar leite morno ou em temperatura ambiente. Não há consenso sobre bebidas frias ou geladas. Alguns especialistas acreditam que elas possam prejudicar as defesas das vias aéreas e, por essa razão, só devem ser ingeridas após 1 ano. Para quem costuma armazenar o líquido no congelador, a dica é aquecê-lo em banho-maria, já que a fervura causa a perda de suas propriedades. A nutricionista Marisa Resende, do Hospital São Camilo (SP), lembra, no entanto, que as fórmulas em pó não são estéreis e, por isso, precisam ser reconstituídas em água fervente para reduzir os riscos de infecção. A especialista diz que o velho truque de colocar o leite no dorso da mão ainda é a melhor maneira de checar se o bebê corre o risco de queimar a boca ao ingerir a bebida.

Vacina dá reação

EM TERMOS. Por ser um corpo estranho ao organismo, ela é capaz de provocar alguma reação. “Entretanto, hoje em dia isso acontece com menos frequência, já que os processos de imunização são mais modernos do que antigamente”, afirma o pediatra José Luiz Setúbal. Após a aplicação da vacina BCG (antituberculose), no entanto, é esperado que o recém-nascido apresente uma pequena ferida no braço que, depois de cicatrizada, forma uma marquinha. Já no caso da Sabin (contra a poliomielite), a reação é raríssima. Com a tríplice viral (que previne caxumba, rubéola e sarampo), há o risco de o bebê ter febre e dor local. Isso porque a vacina é composta pelos próprios vírus causadores da doença atenuados. Reações semelhantes podem ser observadas depois da administração da pentavalente (contra difteria, tétano, coqueluche, meningite e hepatite B). Um antitérmico costuma resolver, mas só pode ser tomado com orientação médica e depois de o sintoma se manifestar, já que o uso preventivo e indiscriminado pode prejudicar a resposta à vacina.

A erupção do dente provoca febre

EM TERMOS. “Em casos raros, a criança pode até apresentar febre baixa, em torno de 37,5ºC”, afirma a pediatra Leda Amar de Aquino, do Departamento Científico de Pediatria Ambulatorial da Sociedade Brasileira de Pediatria. Mas isso só ocorrerá, segundo ela, se acontecer algum processo inflamatório na gengiva. “Se paralelamente ao nascimento do dente o bebê apresentar febre alta, acima de 38ºC, a recomendação é consultar um especialista”, alerta a médica.

Chupeta entorta os dentes da criança

MITO. No primeiro ano de vida, a chupeta não prejudica a estrutura dentária. “A razão de desestimularmos o uso do acessório é que o hábito interfere na amamentação”, justifica Leda. Mas se a criança já passou dos 2 meses e está ganhando peso, é sinal de que o aleitamento vai muito bem, obrigado. Mesmo assim, os pais precisam entender que a chupeta tem a função de acalmar e, por isso, não há necessidade de liberar seu uso indiscriminadamente. Isso só dificultará o abandono do objeto quando ele começar a ser prejudicial para valer. “Depois dos 2 anos, a utilização da chupeta certamente prejudicará o desenvolvimento dos dentes, já que ela projeta a língua para fora, empurrando os incisivos para frente”, explica. O melhor é que o recurso seja reservado, portanto, aos dois primeiros anos de vida e a situações pontuais, com o objetivo de tranquilizar o pequeno.

Bebê que brinca demais tem sono agitado

EM TERMOS. “As crianças têm dificuldade para se ‘desligar’, despedir-se do dia e das pessoas. Então, dependendo do nível de excitação e do tipo de intervenção do adulto na brincadeira, a qualidade do sono pode ser prejudicada”, destaca a psicóloga Izabella. O bebê precisa que você o auxilie na decodificação do material que está explorando. “Se ele for cercado por um monte de brinquedos diferentes, os estímulos podem ser internalizados de forma bruta. O adulto deve, por exemplo, apresentar um objeto que emite determinado som e, em seguida, mostrar outras maneiras de se obter o mesmo som, auxiliando a criança a contextualizar e processar a experiência a favor de seu desenvolvimento.” Com uma melhor compreensão das informações recebidas, o pequeno tem mais tranquilidade para dormir. De qualquer maneira, o ideal é que a brincadeira termine cerca de duas horas antes de o bebê ir para a cama.